23/05/11

Paredes Manchadas.

Estou completamente estoirada.
Acho que hoje fiz mais exercício do que em algumas semanas seguidas.
Estou cheia de sono, transbordo calor dos poros e não seguro as pálpebras.
Mas hoje, hoje relembrei alguns momentos.
Hoje vi, mais uma vez, a Teresa chorar.
Hoje comi morangos.
Hoje andei de cabelo apanhado.

1- Pelo que li, num outro blogue, hoje faz um ano que a Índia morreu. Faz um ano que uma criança de seis anos foi morta pelo seu próprio pai, depois de assistir à morte da mãe. Faz um ano que me apercebo que uma das pessoas mais importantes para mim (mesmo sendo este facto das sensações mais estranhas que vivi, mesmo sem saber como isto pôde ser possível) está no auge do sofrimento. Sim, é verdade que nunca o vi sofrer tanto com alguma coisa. Mas na altura, eu não sabia disto. Hoje, hoje sei que sofreu, sim, talvez mais, muito mais. Há um ano atrás, nada mais percorria a minha cabeça a não ser o seu estado de espírito. Há um ano atrás não conseguia fechar os olhos sem o imaginar à minha frente, sem o imaginar envolvido num abraço que transmitia toda a minha força para os seus músculos. Como tal não era possível, tentei retratar esta força num papel, e pelos vistos consegui. Fico feliz por isso, fico feliz, porque sei que valeu a pena. Sei que, daquela vez, marquei alguém, marquei algum momento, fiz a diferença na vida de alguém que precisava de mim. Na vida de alguém que já afirmou que sem a minha acção anterior nada teria sido o mesmo.
Actualmente, não faço ideia se relembrou tal facto. Tenho a certeza que sim. Tenho a certeza que pelo menos uma lágrima percorreu aquele rosto. Tenho a certeza que aquela folha de papel foi contemplada mais uma vez. Mas, sinceramente, gostava de o olhar nos olhos. 

2- "And high up above or down below when you're too in love to let it go, but if you never try, you'll never know just what you're worth." É bem verdade. E ela não sabe o que vale. Chora, re-chora e volta a chorar. E porquê? Nem vale de nada perguntar. Apenas uma representação, uma figura, uma palavra, apenas aqueles momentos se apoderam dela, da sua fraqueza interior corroendo cada veia por onde o seu sangue corre fugazmente borbulhando, cada vez que o assunto é literalmente transposto para palavras. No fundo, isto também me deixa mal. Também me deixa sem jeito. Também me deixa sem saber o que rematar a seu favor. Também me deixa no meio do deserto a tentar descobrir as diferenças entre dois grãos de areia. Também me deixa sem saber qual deles é que meto no bolso. Deixa-me sem saber qual deles pesa mais. Sem saber qual é que me faria reviver tudo. Qual deles ocuparia mais espaço.